Jornal Hoje
edição do dia 31/10/2002
Professor ensina fotografia a deficientes visuais.
nspirado no filme Janela da Alma, um professor de fotografia resolveu montar uma turma muito especial. Há dois meses um grupo de cegos de Sorocaba, interior de São Paulo, está revelando em fotos o mundo que eles conhecem através do tato e da audição.
Um curso para superar limites. A novidade assustou os próprios alunos. Parecia ser uma tarefa impossível.
“Eu nunca peguei nenhuma máquina fotográfica na mão” – contou a aluna Maria do Carmo Ferreira.
O desafio encheu os alunos de esperança. Teco Barbero que ser fotógrafo profissional. Ele tem apenas 5% da visão. Fala cinco idiomas e cursa jornalismo. “É um aprendizado que pode servir para minha carreira” – comentou.
Há muitas descobertas no contato com o equipamento. A máquina fotográfica transforma-se em uma extensão das mãos. É preciso sentir a imagem, usar a intuição.
“Eles não têm a visão, mas possuem outros sentidos muito apurados” – explicou o criador do curso Werinton Kerns.
Em busca de um novo sentido para a vida, os alunos ganham as ruas. Os barulhos da detoneira e da britadeira chamam a atenção do grupo. A textura de uma árvore e o cheiro das ervas também inspiram os artistas.
Transformar sons, texturas e aromas em imagem é ainda uma experiência nova não só para quem aceitou o desafio. Nas ruas, a iniciativa dessas pessoas é observada com curiosidade.
Quem nunca viu um cego fotografar fica surpreso. Quem era espectador acaba virando personagem. O toque não deixou ninguém constrangido.
Para o menino movido a desafios, fotografar a avó foi um momento inesquecível.
A experiência emocionou alunos e professor. Juntos, descobriram o sentido da fotografia.
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