Termina hoje a terceira edição da Expo-Literária. Com o tema ¿Terra Tatuada de Sonhos¿, foram ao todo quatro dias de evento, que trouxe a Sorocaba o professor Pasquale Cipro Neto; Dorina Nowill, criadora da renomada fundação para cegos que leva seu nome; e os escritores Paulo Lins, Ferréz e Ivan Zigg; o infopoeta Ernesto M. De Melo e Castro e o índio tapuia Kaká Werá. Neste último dia, o público poderá conferir na Biblioteca Municipal ¿Jorge Guilherme Senger¿, às 16h30, a palestra do escritor e cartunista Mauricio de Sousa, o pai da Turma da Mônica, que falará sobre o tema ¿A importância da leitura na infância¿. Mauricio de Sousa publicou sua primeira criação, protagonizada por Bidu e Franjinha, em 1959, no jornal Folha da Manhã. Na época ele tinha 23 anos de idade e era repórter da editoria de polícia. Conquistou espaço e principalmente o público quando criou a Mônica. Em entrevista ao Mais Cruzeiro, Mauricio comenta sobre o mercado de trabalho para o desenhista no Brasil, fala da repercussão do Chico Bento em países que sequer sabem o que é a roça e se posiciona sobre a Marge, esposa do Simpson, ter posado nua para a Playboy. ¿A sociedade americana é aparentemente mais fechada e mais moralista que a brasileira, então ela precisa dessa válvula de escape que nós não precisamos¿.
Confira:
Mauricio, você está comemorando 50 anos de carreira. Você se considera um privilegiado por ter conseguido criar uma turma que faz tanto sucesso?
A gente trabalha tanto, tem tanta coisa pra fazer que não pára pra pensar se foi um privilegiado ou não. O que posso dizer é que vivo o resultado de um trabalho de muitos anos. Não me considero privilegiado por ter conseguido mas sim pela oportunidade de fazer.
Recentemente, entrevistei cartunistas premiados pelo Salão de Humor de Piracicaba, que lamentaram pelo mercado restrito de trabalho. Como você vê o espaço para o cartum no país?
Hoje em dia tem a internet, os blogs, é possível se comunicar com o mundo pelo facebook, orkut, twitter, então de algum modo esse tipo de plataforma tira o foco do desenhista e do chargista para a briga que ele tem de fazer para colocar seu trabalho no papel impresso, que realmente é um meio mais difícil, mas se você se deixar levar pela facilitação do meio eletrônico, deixar de brigar por um lugar ao sol no papel impresso, não conseguirá mesmo. Mas o que vale é o talento e eu sou muito de acreditar na oportunidade aliada ao preparo.
Você poderia indicar três cartunistas novos a serem pesquisados? Quais são os nomes que estão surgindo no mercado? Você acredita que possa surgir um novo Mauricio de Sousa no país?
Olha, tá cheio nos jornais. Tem muitos brotando, mas eu não saberia indicar quais porque hoje em dia felizmente há a possibilidade dos artistas despontarem regionalmente. Antes isso não acontecia... Há bons jornais no interior com talentos locais, então esse desenhista não precisa largar suas raízes, sua família, como aconteceu comigo. No meu tempo era necessário ir para a cidade grande. Eu penso que não é necessário que o desenhista se lance como profissional nacionalmente para se realizar. O artista tem de se tornar empresário de si próprio, fazer como eu fiz, montar uma redistribuição do material. No começo eu levava o desenho, falava com o redator, viajava, emprestava dinheiro para fazer chegar o material onde eu queria, então é isso que a pessoa deve fazer, se quiser mais.
Você começou com o Bidu e o Franjinha e logo surgiu a turma toda, num trabalho que alcançou grande dimensão. Além dos novos personagens, aquela turminha de crianças cresceu e virou jovem. Os gibis são cada vez mais lidos no Brasil e exterior, por crianças e adultos. A que você atribui tanta popularidade?
Nós sempre procuramos produzir um material dinâmico em cima do que está acontecendo, então é uma produção quase jornalística aliada ao cuidado na linguagem, na comunicação escrita e oral. Sempre tivemos essa preocupação em publicar histórias modernas, novas, atualizadas e prontas para se modernizarem cada vez mais, a cada mudança de costume da sociedade. Enfim, produzimos uma história viva.
Por falar no crescimento da turma, a que você atribui a popularidade enorme que a Turma da Mônica Jovem tem entre as crianças?
Isso é projeção. É o que eles querem ser. A criança sempre quer ser. Ser criança é isso, ter vontade de dar um passo a mais, sonhar com o próximo degrau. Agora estou preparando um quadrinho do segundo beijo da Mônica e do Cebolinha, eles ainda não estão namorando, o beijo é algo que tem acontecido...
O que você pensa sobre a Marge, esposa do Homer Simpson, ter posado nua na Playboy? Isso poderia acontecer com a Tina, por exemplo?
Não. Isso não faz parte da nossa proposta, da nossa mentalidade moral. Eu não permitiria, não abriria um caminho para isso. Lá nos Estados Unidos são outros hábitos, costumes, esse tipo de coisa funciona lá, mas aqui não. A sociedade americana é aparentemente mais fechada e mais moralista que a brasileira, então ela precisa dessa válvula de escape que nós não precisamos. Aqui ninguém aparenta nada, nós somos o que somos, então não precisamos disso.
Assisti a uma entrevista sua no programa Roda Viva e fiquei surpresa com a sua atualização e contato permanente com as novas tecnologias. Fiquei curiosa em saber: como gerencia seu tempo entre o trabalho e a interatividade da internet e de que forma você lida com o assédio no twitter?
Como trabalho muito com o computador, entre um projeto e outro às vezes sobram uns minutos para dar uma varrida. Optei pelo twiter pela concisão. É um meio de comunicação rápido, em que é possível responder telegraficamente e também mantém informado com rapidez. Essa é a vantagem do twiter para mim, que sou muito ocupado. A comunicação com o leitor é superválida e pelo twitter eu recebo informações, críticas, sugestões...
Sobre o sucesso da Turma da Mônica fora do país, de que maneira você explica como um personagem do meio rural, como o Chico Bento, consegue ser tão querido em países desenvolvidos, sendo que muitos deles sequer sabem o que é a roça?
Cada país recebe o Chico Bento de uma maneira. Certa vez fui até a Alemanha e percebi que todo mundo gostava dele, então fiquei curioso e perguntei o que eles viam no personagem, já que trata-se de uma história tão nativa brasileira, a resposta é que o motivo é por ser exótico. Já os chineses gostam porque é a história de um menino do campo e lá eles adoram todo o tipo de história que se passa no campo. Na Itália, o motivo é porque o Chico Bento lembra o Brasil. Eu penso que de alguma forma todos gostam porque a mensagem que o Chico Bento passa é ecológica, universal, singela... É um personagem puro, simples, ingênuo, que confia nas pessoas e vive desarmado... É um quadrinho muito lido pelos adultos e é a única revista que as vendas empatam com a da Mônica.
Confira a programação completa: Tenda Drummond
16h30 - Palestra A importância da leitura na infância, com Mauricio de Sousa
Tenda Villa-Lobos
10h30 - Oficina de História em Quadrinhos, Cartoon e Caricaturas, com Luís Antônio Terra Alvarenga (a partir de 9 anos) 14h30 Lançamento da 4ª Coletânea do Espaço Literário do site Sorocult
Tenda Anita Malfatti
10h30 Conto de Fadas João e o Pé de Feijão, com a Tia Kika 13h00 Palestra Mestre do Terror, com Kelly Cristina Rufino (a partir de 9 anos) 14h00 Contação de História Histórias para rir e sonhar, com Maria do Carmo Sewaybricker e Marcello Marra 15h30 - Contação de História História à Boca Pequena, com Zé Bocca e Marcos Boi (de 4 a 17 anos)
Sala Literária Ana Cecília Falcato Prado Fontes
11h00 - Oficina de Desenho para Crianças, ministrada por alunos do curso de Comunicação Visual do Colégio Politécnico 13h00 - Grupo Coesão Poética 14h15 - Roda de conversa com os escritores: Ana Paula Cattai Pismel, Emerson Ribeiro, Felipe Shikama, Gilson Sanches, Jorge Facury, Maria Helena Grohmann Rodrigues de Paula, Nelson Porfírio Rodrigues e Rogéria Pregnolato 15h30 Cia. Mapinguary: Narração de contos tradicionais do Brasil, com Carlos Godoy e Giuliano Del Sole (Sesc)
Auditório
09h45 - Palestra Multimídia, com Jorge Proença 10h15 - Roda de conversa com os escritores: André Jéft, André Luís Medeiros Fazano, André Mascarenhas, Evandro Luís Mesadri, Fernanda Ikedo, Tatiane Pelegri e Wesley Carlos da Silva 11h30 - Lançamento do livro Roda Mundinho, de Douglas Lara 14h00 às 18h00 - Seminário Internacional de Literatura O Tempo é a Minha Matéria - Academia Sorocabana de Letras (a partir de 15 anos) 14h00 - Culturas: conceitos, implicações, tendências - Miriam Cris Carlos 15h00 - Mário de Andrade entre Malfatti, Villa e Drummond - Myrna Ely Atala Senise da Silva 16h00 - Questões do auditório, debate e encerramento do Seminário
SERVIÇO: A
Biblioteca Municipal fica na rua Ministro Coqueijo Costa, 180, ao lado da Prefeitura de Sorocaba, no Alto da Boa Vista.
Interessados em prestigiar a palestra, que é gratuita, devem retirar os ingressos antecipadamente no Palacete Scarpa, que fica na rua Souza Pereira, 448, no Centro.
Informações pelos telefones (15) 3211-2911/2902 ou 3228-2911.
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