13 de ago. de 2010

Pessoas ligadas à literatura lamentam fim da Expo-Literária

Notícia publicada na edição de 13/08/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 4 do caderno B

"Não houve um diálogo. Por que anular o evento? Com quem se discutiu isso? Acho absurdo alguém decidir sozinho pela cidade. É uma perda para Sorocaba, para o jovem leitor principalmente" 

O anúncio feito pelo secretário de Cultura Anderson Santos, sobre a extinção da Expo-Literária, publicado na edição de ontem do jornal Cruzeiro do Sul, surpreendeu pessoas ligadas à literatura em Sorocaba. Realizado durante três anos consecutivos, o evento - que trouxe à cidade nomes como Ziraldo, Mauricio de Sousa, Fabrício Carpinejar, Mário Prata, Arnaldo Antunes, entre outros - deixa de acontecer para ser agregado à Semana do Escritor, mas somente a partir de 2011. Ou seja, este ano não vai ser realizado e no próximo ano, ao ser incorporado a outro evento, a proposta de ambos deve mudar. Já nem será a Expo-Literária, com a função de atrair o público em geral para a literatura através de contato com renomados palestrantes, e nem a Semana do Escritor como tem sido até então, que se concentra na divulgação exclusiva de autores de Sorocaba e região. O que de fato irá ocorrer ainda não se sabe, já que a reunião para discutir o assunto será feita após a realização da Semana do Escritor, marcada para acontecer de 24 a 28 de agosto, na Fundec. A extinção de um evento que estimula a leitura não condiz com uma cidade que prega o conceito de educadora. Espera-se que no próximo ano a promessa de unir os dois eventos ao menos mantenha a verba destinada para esse fim. Vale lembrar que em 2008 o investimento foi de R$ 135 mil e em 2009, por conta da crise econômica, o valor foi reduzido para R$ 100 mil. O professor de Língua Portuguesa e Literatura João Batista Alvarenga, que é escritor e teve suas obras divulgadas nos dois eventos (Expo-Literária e Semana do Escritor), lamenta a decisão do secretário. Lamento que a Expo-Literária tenha acabado. Os dois eventos são necessários. Espero que agora a Secretaria de Cultura tenha sensibilidade para fazer um evento que agrade os dois segmentos, que tenha público e que a proposta da Semana do Escritor não se perca, e nem se perca a proposta da Expo-Literária. Eu participei da primeira organização da Expo-Literária e a ideia era que esse evento proporcionasse para Sorocaba uma projeção nacional. Essa era a ideia, não sei se perdeu o foco... Sorocaba tem escritores de qualidade, mas não tem espaço midiático para dar vazão a essa produção, afirma. Para Myrna Atalla Senise, professora de Língua Portuguesa e Literatura e membro da Academia Sorocabana de Letras, a extinção da Expo-Literária é absurda. Sou contra a extinção de qualquer coisa no aspecto da cultura, principalmente porque já é tão difícil iniciar um projeto e este, da Expo-Literária, existe desde 2007 e não tem nada a ver com a Semana do Escritor, as duas coisas independem. Um tem como foco o livro sorocabano e outro a literatura em geral. Um completa o outro, não acaba com o outro. Se o secretário acabou com a Expo-Literária porque são duas correntes parecidas, por que então temos um Festival Gospel e um Festival de Música? Acho que não é desta forma, não é por este caminho, diz. Ainda conforme Myrna, é importante que exista a Semana do Escritor, mas nem por isso deve ser extinta a Expo-Literária. São propostas distintas, ressalta, acrescentando que a Academia Sorocabana de Letras foi convidada para ajudar na elaboração da Expo-Literária deste ano, mas não foi consultada sobre a extinção do evento. Não houve um diálogo. Por que anular o evento? Com quem se discutiu isso? Acho absurdo alguém decidir sozinho pela cidade. É uma perda para Sorocaba, para o jovem leitor principalmente. Acho primordial num regime democrático o diálogo, por isso é que lutamos contra a ditadura. Ninguém pode ser único a decidir uma coisa para a cidade. Isso não pode acontecer. Isso é ditadura!, indigna-se. Miriam Cristina Carlos Silva Tonelli, escritora, professora e doutora em comunicação e semiótica, afirma que só se pode lamentar que qualquer evento que enalteça a literatura e incentive a leitura corra o risco de não existir. E a Expo, além da qualidade literária, tinha um cunho midiático. Me parece que essa era uma preocupação também, por realmente atrair público, era uma forma de incentivar a leitura e fazer com que o público em massa fosse a um evento voltado aos livros, então não vejo com bons olhos o fato de deixar de existir, diz. Para Miriam, essa junção dos dois eventos somente dará certo se os organizadores conseguirem unir as duas propostas, preservar o caráter local, regional, e o nacional também. Se não chamarem o Mauricio de Sousa, a dona de casa não vai até o evento. E a Prefeitura é que tem cacife para trazer esses nomes, então tem de ter uma política pública de promoção à leitura. Um evento como a Flip, de Paraty, tem todo um aparato, a preocupação com a literatura gera um retorno grande para a cidade, como empregos, o estímulo ao turismo, então eu penso que há aqui a necessidade de profissionalizar esse tipo de evento e pensar em tudo o que ele pode trazer para Sorocaba. Penso ainda que para as decisões serem tomadas é necessário ouvir a comunidade, o que os escritores da cidade querem, os acadêmicos, as escolas, não dá para cancelar um evento sem ouvir o que as pessoas querem, afirma. Sonia Maria Grando Orsioli, organizadora da Semana do Escritor, junto com Cintian Moraes (o idealizador, Douglas Lara, está afastado por motivo de doença) afirma que participou de uma reunião na segunda-feira (dia 9) com o secretário Anderson Santos, e ficou sabendo do cancelamento da Expo-Literária. Acho uma pena. Quem perde são os escritores... Mas por outro lado a Semana do Escritor se fortalece, diz. Conforme Sonia, o secretário ainda não conversou com ela e Cintian sobre como vai ser no próximo ano. Não tínhamos recursos para investir na Semana do Escritor, por isso não trazíamos palestrantes de renome. Mas agora vamos unir os esforços, tudo será conversado ainda este ano, depois da Semana do Escritor, diz. Se por um lado Sonia ficou feliz, por outro lado fica triste porque perde-se outro evento. Mas acredito que a junção dos dois não vai desvirtuar a Semana do Escritor de forma alguma. Se é literatura não vejo muita diferença. A gente quer mesmo a união, e agora a Semana vai ficar mais fortalecida, acredita. 

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