Andrea Alves
"Ele está sorrindo, como você pediu que ele sorrisse, a imagem está contra a luz, então aparece uma sombra dele e o foco maior está na câmera". Assim o fotógrafo Werinton Kermes descrevia a foto tirada por Edson de Miranda Melo, 15 anos. O garoto é cego e ontem participou, pela primeira vez, da oficina "O outro olhar: fotografia com o corpo e seus sentidos" para deficientes visuais e realizada na Associação Sorocabana de Atividades para Deficientes Visuais (Asac), por Werinton e Miriam Cris Carlos. A atividade era parte da programação do Sesc para a Virada pela Inclusão, já que ontem foi o Dia Internacional do Deficiente Físico.
A experiência com fotos, para Edson, foi muito marcante. "Já que não enxergo, nunca tinha me interessado por imagens. Mas surgiu essa possibilidade e achei interessante poder registrar pessoas e momentos". Usando o tato e a audição, Edson consegue apontar a lente da sua câmera para a direção que pretende registrar. No caso da foto descrita por Werinton, Edson quis focar o fotógrafo Érick Pinheiro, que fazia a reportagem para o Cruzeiro do Sul, e também sua máquina fotográfica. "Deve ser uma máquina linda pelo tamanho e pelo som que ela faz", comentou ele enquanto sentia, pelo toque, o objeto a ser registrado em imagem.
Assim como Edson, Iara Cordeiro, que tem 40 anos e ficou cega aos 23 anos por conta de um glaucoma, também clicava imagens por meio de sons e toques. "Jamais imaginava que faria isso novamente em minha vida. Posso guardar fotos da minha mãe, preservar momentos. Mas quem descreve a foto pra gente deve contar direitinho o que tem nela, com muita atenção aos detalhes". Essa revelação de uma fotografia que conta com a descrição humana, é um dos pontos mais interessantes para Werinton, que junto com Miriam já desenvolveu a oficina em outros oportunidades, inclusive em outros Estados do Brasil.
"A imagem que o cego ou deficiente visual vai construir depende da descrição. E a compreensão disso vai surgir da interação entre quem vê e quem não vê", explica Werinton. O fotógrafo ainda diz que a oficina é um reforço sobre o quanto quem não enxerga ou tem dificuldade de visão tem condições de participar de grupos, de produzir, criar. Da oficina, Miriam escolhe destacar a poesia, que quebra os padrões de imagens já estabelecidas como certas. "O certo e o errado é um conceito que deixa de existir. O erro é incorporado como um processo poético. É um registro do acaso, do inesperado. Não há regra", afirma.
Experimentações
Além de deficientes visuais e cegos, os chamados normovisuais, ou seja, quem enxerga normalmente, também participaram da oficina, como foi o caso de Cleide Silva Freitas Vaz, artesã e estudante de pedagogia. Mãe de um menino de 11 anos que tem deficiência visual, ela resolveu experimentar as sensações e a dificuldade de não enxergar e aproveitou aliar isso ao gosto pela fotografia. De olhos vendados, foi convidada a experimentar comida, tocar objetos diferentes e andar, com direito a subir e descer degraus.
"É muito difícil. Até fiquei com medo e descobri que as pessoas que não enxergam precisam confiar demais nas outras. Por outro lado, usei mais a audição, o tato, o olfato". Cleide tem 40 anos e foi a primeira vez que experimentou essa sensação. "Creio que vou poder ajudar melhor meu filho, mesmo ele estando muito adaptado ao fato de praticamente não enxergar desde que nasceu".
A oficina teve aula teórica, percursos e testes sensoriais, um pouco de teatro fotografado e práticas pelas ruas do centro da cidade.
A experiência com fotos, para Edson, foi muito marcante. "Já que não enxergo, nunca tinha me interessado por imagens. Mas surgiu essa possibilidade e achei interessante poder registrar pessoas e momentos". Usando o tato e a audição, Edson consegue apontar a lente da sua câmera para a direção que pretende registrar. No caso da foto descrita por Werinton, Edson quis focar o fotógrafo Érick Pinheiro, que fazia a reportagem para o Cruzeiro do Sul, e também sua máquina fotográfica. "Deve ser uma máquina linda pelo tamanho e pelo som que ela faz", comentou ele enquanto sentia, pelo toque, o objeto a ser registrado em imagem.
Assim como Edson, Iara Cordeiro, que tem 40 anos e ficou cega aos 23 anos por conta de um glaucoma, também clicava imagens por meio de sons e toques. "Jamais imaginava que faria isso novamente em minha vida. Posso guardar fotos da minha mãe, preservar momentos. Mas quem descreve a foto pra gente deve contar direitinho o que tem nela, com muita atenção aos detalhes". Essa revelação de uma fotografia que conta com a descrição humana, é um dos pontos mais interessantes para Werinton, que junto com Miriam já desenvolveu a oficina em outros oportunidades, inclusive em outros Estados do Brasil.
"A imagem que o cego ou deficiente visual vai construir depende da descrição. E a compreensão disso vai surgir da interação entre quem vê e quem não vê", explica Werinton. O fotógrafo ainda diz que a oficina é um reforço sobre o quanto quem não enxerga ou tem dificuldade de visão tem condições de participar de grupos, de produzir, criar. Da oficina, Miriam escolhe destacar a poesia, que quebra os padrões de imagens já estabelecidas como certas. "O certo e o errado é um conceito que deixa de existir. O erro é incorporado como um processo poético. É um registro do acaso, do inesperado. Não há regra", afirma.
Experimentações
Além de deficientes visuais e cegos, os chamados normovisuais, ou seja, quem enxerga normalmente, também participaram da oficina, como foi o caso de Cleide Silva Freitas Vaz, artesã e estudante de pedagogia. Mãe de um menino de 11 anos que tem deficiência visual, ela resolveu experimentar as sensações e a dificuldade de não enxergar e aproveitou aliar isso ao gosto pela fotografia. De olhos vendados, foi convidada a experimentar comida, tocar objetos diferentes e andar, com direito a subir e descer degraus.
"É muito difícil. Até fiquei com medo e descobri que as pessoas que não enxergam precisam confiar demais nas outras. Por outro lado, usei mais a audição, o tato, o olfato". Cleide tem 40 anos e foi a primeira vez que experimentou essa sensação. "Creio que vou poder ajudar melhor meu filho, mesmo ele estando muito adaptado ao fato de praticamente não enxergar desde que nasceu".
A oficina teve aula teórica, percursos e testes sensoriais, um pouco de teatro fotografado e práticas pelas ruas do centro da cidade.
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