16/08/2012 - 14h41
LUCAS NOBILE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Morta no dia 19 de julho de 1987 em decorrência de um derrame, Clementina de Jesus (1901-1987) é frequentemente esquecida em seu próprio país.
Seus discos estão fora de catálogo há anos e trabalhos que lembrem a importância da cantora --nascida na cidade fluminense de Valença e descoberta em 1962, quando já tinha 60 anos, por Hermínio Bello de Carvalho-- são cada vez mais escassos.
As cantoras Dona Ivone Lara (à esq.) e Clementina de Jesus durante encontro em 1980, na Bahia
Na contramão dessa indiferença com a artista que mais aproximou a cultura musical brasileira com nossos antepassados africanos, tem início hoje, na Galeria Olido, um projeto de curta duração, mas que tem Clementina como sua principal homenageada.
Idealizado pela jornalista, produtora e pesquisadora Maitê Freitas, o projeto "Desde que o Samba é Sampa" terá duas atividades diretamente ligadas a Clementina. Uma delas é a exibição do documentário "Clementina de Jesus - Rainha Quelé", dirigido por Werinton Kermes (leia mais abaixo), que acontece nesta sexta (17), às 19h, na Galeria Olido.
A outra, de hoje até o dia 2 de setembro, no mesmo local, é a exposição "Clementina de Jesus - Uma Breve Trajetória Foto-Biográfica". A mostra, que teve curadoria de Werinton Kermes, Maitê Freitas, Daniela Barros e colaboração de Heron Coelho, conta com 32 fotos da cantora.
"Essas imagens mostram desde o cotidiano dela, fazendo comida, passando roupa até registros com nomes como Cartola. São 32 fotos e a ideia é, mais pra frente, fazer uma exposição maior, com 100 imagens dela a que tivemos acesso", diz Maitê Freitas.
MUITO ALÉM DE CLEMENTINA
Sem dúvidas, as homenagens a Clementina são merecidas. Mais justo ainda é o fato de o projeto "Desde que o Samba é Sampa" não se limitar à obra da intérprete, propondo um estudo mais amplo sobre o gênero musical mais tradicional do país.
Concebido no ano passado por Maitê Freitas, o projeto foi contemplado pelo edital VAI (Valorização a Iniciativas Artísticas), da prefeitura de São Paulo.
"A minha ideia inicial era de fazer um mapeamento das rodas de samba de São Paulo, com a intenção de criar um guia de serviços para a comunidade mesmo. Mas eu percebi que antes eu precisava estudar a importância das rodas de samba e seu ambiente sagrado", explica a curadora.
Nesta linha de pesquisa, o projeto terá quatro mesas de debates com temas diversificados, com a participação de nomes de muitas áreas, desde historiadores, pesquisadores e antropólogos até músicos ligados, obviamente, ao universo do samba.
A primeira, que acontece hoje, das 16h às 18h, vai discutir a relação entre o samba produzido em São Paulo e a urbanização da cidade. Já a segunda, que ocorre da 18h30 às 20h30, vai abordar a construção da identidade de uma roda de samba.
Nesta sexta, mais duas mesas de debate: das 14h às 16h, será discutida a importância da sonoridade percussiva resultante da Diáspora Africana e a herança musical deixada ao povo brasileiro. Na sequência, das 16h30 às 18h30, bate-papo sobre o ambiente sagrado das rodas, os encontros de gerações no samba e a maneira como ele dialoga com a sociedade.
"Fizemos um recorte ao escolher o samba, mas o projeto trata da música brasileira em geral. Espero que seja só o começo para que aconteçam outras edições", diz Maitê Freitas.
Além dos debates, o projeto também contará com a exibição de dois documentários neste sábado, na Casa de Cultura Palhaço Carequinha, no Grajaú. Das 14h às 15h, "Sou Negro, Não Sei Sambar", de Patrício Salgado. Das 15h30 às 17h, "Geraldo Filme", de Carlos Cortez.
Também no sábado, marcado o encerramento da primeira edição do "Desde que o Samba é Sampa", o projeto terá uma roda de samba com o grupo Virado a Paulista, também no Grajaú, das 17h30 às 19h.
CLEMENTINA, A MÃE QUELÉ
Realizado em 2011 por Werinton Kermes e Heron Coelho, o documentário "Clementina de Jesus - Rainha Quelé" foi exibido neste ano no festival In-Edit Brasil e segue pouco divulgado.
Um dos principais atrativos da programação do "Desde que o Samba é Sampa", o filme retrata a importância da figura de Clementina para a música brasileira, contando com imagens da cantora em programas de televisão e entrevistas dadas pela própria artista.
Além disso, conta com depoimentos de nomes como Paulinho da Viola, João Bosco, Cristina Buarque, Martinho da Vila, Carlinhos Vergueiro, Mônica Salmaso, Olivia Bayton, Grupo Fundo de Quintal, Leci Brandão, entre outros.
Em relação à forma, o documentário é extremamente tradicional. Neste caso, o que importa, de fato, é o conteúdo e a intenção de mostrar às novas gerações a importância da figura de Clementina de Jesus, a "heroína da resistência negra" e uma das cantoras mais autênticas que já surgiram no Brasil.
"Clementina de Jesus - Rainha Quelé" cumpre sua função didática e documental ao apresentar o "estilo Clementina", com informações sobre toda sua trajetória e sua breve, mas fundamental discografia.
DESDE QUE O SAMBA É SAMPA
QUANDO quinta (16), sexta (17) e sábado (18)
ONDE Galeria Olido (av. São João, 473, centro; tel. 0/xx/11/3331-8399) e Casa de Cultura Palhaço Carequinha (r. Professor Oscar Barreto Filho Carequinha, 50, Grajaú)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
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