Carlos Araújo
Debate discute a influência das redes na educação de crianças e adolescentes
Miriam Cris Carlos alerta que a grande quantidade de informações contidas nas redes não garante qualidade - Por: Luiz Setti
Nelson Raul, Laelso, Luciana, Andreia e Miriam - Por: Pedro Negrão
O uso das redes sociais veio para
ficar. Diante dessa situação, quais são as implicações das influências
desses novos meios de integração entre as pessoas para o ensino de
crianças e adolescentes? Para debater essa questão, o Colégio COC Santa
Rosália e o Cruzeiro do Sul promoveram o debate "A influência das redes
sociais na educação de crianças e adolescentes". O encontro aconteceu no
último dia 12 no auditório do Cruzeiro do Sul. Foi aberto pelo diretor
do Colégio, Nelson Raul Fonseca, e pelo presidente da Diretoria
Executiva da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), Laelso Rodrigues. Três
professoras apresentaram o tema. Em suas palestras, cada uma tratou dos
aspectos que relacionam as redes sociais com a comunicação, a utilização
e as dicas de proteção. Uma delas, a professora Luciana Aparecida
Martinez Zaina, concluiu sua participação com estímulo à reflexão:
"Espero que eu tenha colocado muitas inquietações e nenhuma solução."Luciana é professora do curso de Ciência da Computação da Universidade de São Carlos (Ufscar). As outras duas professoras são Miriam Cristina Carlos da Silva, do curso de Mestrado em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba (Uniso), e Andreia Damasio de Leles, da Faculdade de Engenharia (Facens) de Sorocaba.
Miriam, que lançou o olhar da comunicação no tema, disse entender as redes sociais como uma possibilidade de comunicação a mais. Ela lembrou que comunicação é criação de vínculos e estas relações alteram as pessoas envolvidas. Disse que o conceito de rede e comunidade virtual não é um conceito novo. Definindo a rede como um conjunto de pessoas que se relacionam a partir de interesses comuns, informou que esse sistema de comunicação existe desde muito antes das tecnologias digitais. Como exemplos, citou grupos de pessoas que se reuniam para colecionar papel de cartas e receitas.
Luciana abriu a fala com uma pergunta: "Por que as crianças e adolescentes usam as redes sociais?" Seria por moda? Ela negou. E respondeu: "Eles já nasceram com a tecnologia. Você tem cada vez mais cedo uma criança usando computador." E exibiu a imagem de um casal com uma criança de colo manipulando um tablet. As crianças fazem parte de uma geração tecnológica: "Por que eles usam? Porque é o mundo deles." Se os pais proibirem, disse que as crianças vão usar a rede na casa do amigo. Desse modo, concluiu que o melhor é a criança e o adolescente saber para que, como e quando usa usa as redes sociais.
Relações
Segundo Miriam, o conceito de rede começou a ser discutido desde a década de 1940 do ponto de vista da sociologia. O problema é se as redes sociais, entre as quais se destaca o Facebook, promovem relações e conhecimento. "Sim, mas de um modo muito mais complexo", disse Miriam. "Por exemplo: ao invés de laços e de afeto, uma produção de visibilidade. A gente tem ali algo que propicia uma superexposição. Todo mundo está ali superexposto e ao mesmo tempo extremamente visível. E, além disso, as pessoas estão ali para serem curtidas, para se mostrarem. É uma vitrine, muito mais do que uma comunidade."
Na sua análise, as redes não oferecem hierarquização na produção do conhecimento. Todos são ao mesmo tempo emissor e receptor de conteúdos. Num aniversário, alguém tira uma foto com um celular e de repente, sem a autorização, a foto vai para a rede: "Não existe hierarquia de quem produz a informação e de quem recebe, todo mundo produz e todo mundo recebe ao mesmo tempo."
A imensa quantidade de informações contidas na rede, segundo Miriam, também não garantem qualidade, E o público e o privado se mistura, sem limite, porque não existe mais diferença entre os espaços físico e virtual. "O que acontece é que na rede a vida pública acaba ficando misturada com a vida privada, às vezes em excesso", comparou. Ela vê uma tensão entre o que o indivíduo expõe e o personagem nos dados que compõem o perfil no Facebook: "Porque é um personagem, você não pode estar inteiro ali, aquilo é uma representação de você que não corresponde à sua totalidade, você é muito mais complexo do que aquilo."
Com base nessa descrição, Miriam perguntou: "O que você vai mostrar e o que não vai mostrar? Se para o adulto é difícil, imagine para o adolescente. Se para o adolescente é difícil, imagine para a criança." São dificuldades que se complicam a cada faixa etária quando o problema é a exposição do "eu" ou de algumas faces do "eu" entre os muitos "eus" que compõem uma pessoa." Professores, alunos e pais devem se lembrar de que estar na rede é estar visível para o mundo", alertou.
Para o professor, na sua visão, tudo é mais complicado. Isto porque, ele é professor o tempo inteiro e em todo lugar. Ela ressaltou outro aspecto de amplitude: "De quem é seu Facebook? É seu mesmo? É seu, das empresas que patrocinam, é das empresas que trabalham com a publicidade que é direcionada a você? É do amigo do seu amigo, das redes dos seus amigos? Quanta gente que está ali que a gente nem sabe quem é."
Mau uso
Miriam citou exemplos de mau uso do Facebook, como o de um rapaz que lavou o seu cachorro e pendurou o animal no varal. Um criminoso fez um assalto e se exibiu manipulando o dinheiro que iria gastar. Uma profissional reclamou do salário do chefe, que a seu ver era injusto em relação ao salário que ela recebia, e foi demitida. "As pessoas não se dão conta do quanto esse espaço é público, não é um espaço privado", afirmou.
Limites
Luciana disse que o Facebook é sinônimo de redes sociais para uma criança de 8 ou 9 anos. Só que essa ferramenta não é o único ambiente de rede social: "Existem mais ou menos uns 50 ambientes diferentes de redes sociais no mundo." Entre as redes mais conhecidas, citou o You Tube, o Twitter, o Flickr, o Orkut e o Club do Pinguim.
Com base em dados de pesquisa feita nos Estados Unidos sobre acesso de pré-adolescentes e adolescentes nas redes sociais, Luciana informou que 73% de adolescentes participam de uma rede social, o que é um número alto. A média de amigos que um adolescente tem no Facebook é de 201 pessoas. E 37% deles enviam mensagens aos amigos todos os dias. Aproximadamente 85% deles comentam ou curtem fotos e postagens de seus amigos. Além disso, com dado em pesquisa brasileira, 42% dos adolescentes já adicionaram pessoas que não conheciam. Luciana afirmou que o Brasil tem a menor média de idade entre os pré-adolescentes começam a usar as redes sociais: Austrália, Estados Unidos, França, Japão, seguem o padrão dos 13 anos. No Brasil, as crianças começam a usar as redes sociais aos 9 anos.
Existe o porque de a gente ter o cuidado com a idade com que eles começam a usar, e o que começam a usar", disse. "Será que alguém de 9 anos pode ou deveria estar no Face?", ela perguntou. Há uma lei norte-americana de 1998 que instituiu uma regra chamada "arte de proteção à privacidade online infantil". A lei considerou que até os 13 anos as crianças têm inocência. Nos EUA, só se consegue rastrear os dados de alguém se ele tem 13 anos ou mais. Abaixo dessa idade, só com autorização dos pais. E lembrou que, mesmo com a existência dessa lei, em 2011 o Facebook anunciou que diariamente apaga cerca de 20 mil perfis de usuários abaixo da idade limite e que não deveriam acessar o Face.
Pais brasileiros se preocupam, mas são os menos rígidos
A professora Andreia Damasio de Leles disse que de uma maneira geral os pais brasileiros, em comparação com os pais de outros países, são bastante preocupados com a segurança nas redes sociais. Citando uma pesquisa sobre o assunto, informou que 34% deles dizem não confiar no controle de privacidade das redes sociais e 38% pesquisam os perfis dos seus filhos. Isto mostra, na sua avaliação, que muitos pais deixam os filhos se relacionarem virtualmente mas ficam preocupados com o que eles fazem nas redes. "Ao mesmo tempo que os pais brasileiros se preocupam, eles também são os menos rígidos", disse Andreia.
Entre os principais riscos, citou aqueles relacionados às fraudes, o que é mais comum nas redes e corresponde a pessoas que tentam se passar por outra. Ela deixou claro que as crianças também estão expostas a códigos maliciosos, páginas faltas, invasões das redes sociais. Há mensagens de falsos amigos que levam a criança a achar que a origem é de amigos. "Eu tenho que tomar cuidado não só com mensagens de estranhos, mas também dos meus próprios amigos da minha rede, que muitas vezes não são, é um perfil fraudulento", alertou.
A atenção aos riscos é necessária, segundo Andreia, porque os danos são graves, como furto de identidade. "Uma vez que utilizam o seu nome de maneira indevida, colocam uma foto sua, fazem mau uso de uma foto ou de todo o seu perfil, isso é extremamente negativo", disse. Até porque, mesmo quando a pessoa identifica que foi vítima de ação fraudulenta, é difícil deletar todo o perfil de um dia para outro.
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