Semana de Letras começa amanhã na Uniso

Notícia publicada na edição de 12/09/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 1 do caderno B

A partir de 2ª feira (13) até a próxima sexta-feira, dia 17 de setembro, a Universidade de Sorocaba (Uniso) promove a 24ª Semana de Letras, que conta com 25 atividades, entre palestras, colóquios e lançamentos de livros. O evento conta com programação aberta a todos os interessados e pode ser conferido sempre a partir das 21h no Salão Vermelho do câmpus Trujillo (avenida General Osório, 35). A entrada é gratuita. Entre os destaques da programação está a palestra do Prof. Dr. Nildo Benedetti, da USP, sobre o tema ¿A Noção de Brasilidade em Guimarães Rosa¿. Conforme Nildo, a brasilidade que identifica em Guimarães Rosa está despojada de conceito ufanista. ¿Não é no sentido de orgulho nacional, é uma brasilidade mais ligada à nossa cultura, nossa maneira de ver a vida, de pensar, enfim, nossas crenças. É dessa forma que a obra de Guimarães Rosa procura caracterizar o Brasil. E esse é um reflexo de sua atividade como diplomata e atuante no meio intelectual, onde existia uma preocupação em entender o nosso país¿, esclarece. Guimarães Rosa, ainda de acordo com Nildo, não acreditava muito que o Brasil pudesse ser inteiramente explicado por estudos científicos, por isso escolheu a ficção para definir o país. ¿Numa entrevista, Guimarães Rosa fala que Gilberto Freyre tentou uma definição de brasilidade em Casa Grande e Senzala, mas que ela foi insuficiente porque não revela tudo o que é o Brasil. Para ele, o povo é sua língua, por isso é que buscava as palavras na sua origem¿, afirma. Para exemplificar, o professor da USP cita uma passagem do conto São Marcos, de Sagarana, onde é possível perceber a importância da linguagem. ¿Em um determinado momento existe um desafio entre o protagonista, que encontra palavras escritas em um bambu, e um personagem que ele chama de Quem-Será. Nesta discussão entre os dois, ele, como homem instruído, faz demonstrações de seu amplo conhecimento, e o outro usa uma linguagem simples. Os dois vão influenciando um ao outro, e o protagonista mesmo reconhece que perdeu o desafio para o homem simples. Então, o conceito de brasilidade de Guimarães Rosa deixa claro que somos um misto do nosso folclore popular com a alta literatura, ou seja, a fusão do particular com o universal é que constitui a característica do povo brasileiro. Por isso é que a obra dele mistura as duas coisas. A gente lê um livro de Guimarães Rosa e encontra muitas referências da literatura universal como Homero e Dante Alighieri. Ele fez muito bem isso e de forma sutil, camuflada. Em ¿A Hora e a Vez de Augusto Matraga¿ há uma frase que diz para ter cuidado com as pedras soltas no chão, achei estranha ali e fui pesquisar. Descobri, então, que a frase era da Divina Comédia. Basta fuçar que acaba-se achando¿, diz. Ainda conforme Nildo, o conceito de brasilidade em Guimarães Rosa surgiu quando o autor escrevia Sagarana, em um momento em que havia um grande debate nacional a respeito do que definiria o povo brasileiro. ¿Era um movimento do qual faziam parte Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Oliveira Viana, enfim, esse pessoal discutia o Brasil, se preocupava com o que fazia a gente não deslanchar como civilização. E Guimarães Rosa, homem intelectual que era, também estava preocupado com isso, com a definição do caráter nacional. Isso fica muito claro em suas obras, principalmente Sagarana, Grande Sertão e Corpo de Baile¿, esclarece o professor. Para Nildo, essa é uma preocupação que deveria ser de todo brasileiro. ¿Todo brasileiro deveria tentar pelo menos compreender um pouco o Brasil, embora seja muito difícil, mas pelo menos não teorizar sobre ele, e sim procurar entendê-lo como uma cultura multifacetada¿. Programação Diferentes temas serão abordados na programação, entre eles ¿A Música no Discurso Cinematográfico¿, ¿Provérbios em Português e Russo¿, ¿Teatro na Educação¿ e ¿Contracultura¿. Destacam-se, ainda, os lançamentos das obras ¿Catolicismo indígena¿ e ¿Hipertextos Multimodais - Leitura e Escrita na Era Digital¿, dos professores do curso de Letras, Paulo Edson Alves Filho e Luiz Fernando Gomes, respectivamente. O público pode participar dos colóquios e palestras programados diariamente, sempre às 21h, com inscrição feita no momento. Haverá, também, oficinas e aulas nas classes, que serão destinadas apenas aos alunos do curso. A agenda aberta ao público (toda ela acontece no Salão Vermelho) é a seguinte: amanhã, a Profª Drª Luciana Coutinho fala sobre ¿A Palavra e a Imagem¿. Na terça, no mesmo local e horário, a Profª Drª Mírian Cris Carlos aborda o tema ¿A Pele Palpável da Palavra¿. Já o tema do colóquio programado será ¿O Insólito na Literatura¿, sobre o qual falarão Luiz Fernando Gomes, Paulo Edson Alves Filho e Alexandre Blaitt. Na quarta-feira, a agenda abre espaço para a Profª Drª Maria Angélica Lauretti Carneiro falar sobre ¿Relação Intertextuais e Imagens¿. O colóquio reúne a Profª Ms. Daniela Aparecida Vendramini Zanella, o Prof.Ms. Marcelo Ramalho e o Prof. Paulo Edson Alves Filho em ¿Sociedades Bilíngues¿. Na quinta, dia 16, o roteiro destaca palestra da Profª Agostine Aparecida de Souza sobre o tema ¿Listening¿. Na sequência, o professor Nildo Benedetti, da USP, aborda ¿A Noção de Brasilidade em Guimarães Rosa¿. Em seu último dia, sexta-feira, a Semana das Letras tem programada a palestra ¿Educação à Distância: Novos Contornos, Novas Possibilidades¿, com Rosimeire Moreira Vizentim, Daniele de Oliveira e Leo Victorino da Silva. Serão, ainda, lançados os livros ¿Catolicismo Indígena¿, de Paulo Edson Alves Filho e ¿Hipertextos Multimodais - Leitura e Escrita na era Digital¿, de Luiz Fernando Gomes.