18 de mai. de 2011

Clementina de Jesus: Rainha Quelé


Escritor Leonardo Boff prestigiou o evento


Roteirista Míriam Cris Carlos


Público assiste atentamente

Diretor Werinton Kermes

Olhares atentos e emocionados observaram pela primeira vez a exibição do vídeo-reportagem “Clementina de Jesus: Rainha Quelé”, no último sábado, 14/05, no Quilombo São José da Serra, município de Valença/RJ.
A produção, dirigida pelo jornalista e documentarista Werinton Kermes, faz uma homenagem póstuma à cantora valenciana Clementina de Jesus, que “abalou as estruturas musicais”. Das incelenças, pontos e jongos aos sambas dissonantes e sofisticados, tudo, na voz dela ganhou outra cor: a cor da terra afro-brasileira e sua memória ancestral.
            Dentre as tomadas de imagem realizadas para o trabalho jornalístico, as mais poéticas encontram-se quando se enfatiza a vivacidade da música e da dança negra vivenciadas no Quilombo São José, que existe há cerca de 150 anos e é o mais antigo do estado. Os pais de Clementina eram remanescentes de origem banto, provável origem dos negros desse local. Por isso, a narrativa entrecruza a imagem de muitos negros, entre eles, Clementina de Jesus.
A data foi escolhida em razão da comemoração do dia de Preto Velho realizada nesse Quilombo com a Festa do Jongo. Há dez anos, o evento é aberto ao público gratuitamente e realizado sempre no sábado mais próximo ao 13 de maio, uma referência também a abolição da escravatura. É um tributo à negritude e, por justiça, a comunidade negra da qual Clementina é ascendente, foi a primeira a receber o resultado do vídeo-reportagem.
Ao ar livre e sob a luz de um belo luar, o público de cerca de duas mil pessoas, formado por moradores do Quilombo e visitantes de todos os cantos do país, mantiveram-se atentos durante toda a exibição. No local havia muitas pessoas que aparecem no vídeo. Além destas, apresentaram-se para cumprimentar os realizadores, muitos produtores culturais responsáveis por Pontos de Culturas, Organizações não-governamentais, Coletivos da luta pela valorização da Cultura Afro-brasileira, professores, jornalistas, pesquisadores da cultura afro, e também o escritor Leonardo Boff.
A exibição não iniciou no momento em que o projetor foi ligado. Muito antes, os espectadores já estavam incluídos naquela narrativa. Para chegar ao Quilombo, todos presenciaram a vista cinematográfica da região serrana do interior do estado do Rio de Janeiro, que não por acaso é intitulada Serra da Beleza: um túnel do tempo. Recepcionados ao som dos atabaques, os visitantes observaram apresentações animadas de capoeira, maculelê, sambas de rodas, jongos e celebrações religiosas, e, espontaneamente, todos se direcionaram para contemplar por quase uma hora, a Rainha Quelé, em um telão montado em frente à Capela. Senhoras e senhores, jovens e crianças, olhavam para a tela, como quem observa um espelho numa íntima reflexão.
O roteiro assinado pela doutora em Comunicação e Semiótica Míriam Cris Carlos, traz um mosaico, constituído, sobretudo, a partir dos relatos, das narrativas construídas com os depoimentos dos entrevistados, paralelas à pesquisa do material iconográfico da carreira da cantora negra. Ainda como peça fundamental para a concretização do vídeo-reportagem está a obra “Rainha Quelé”, organizada pelo pesquisador Heron Coelho, também produtor do vídeo, e que traz textos de autores importantes, tais como de Hermínio Bello de Carvalho, principal responsável por levar Clementina às platéias, Nei Lopes, entre outros, que escreveram sobre Clementina de Jesus, relatando parte de sua obra e vida.
Logo após a exibição, visivelmente feliz, Werinton Kermes, expressava em seu olhar a satisfação da realização de um sonho. “Esta foi uma das maiores emoções que já vivi. Por muitos anos trabalhei nesta produção. Não foram poucas as dificuldades, mas junto com minha equipe consegui superar. Este acontecimento é um marco para mim, ainda estou zonzo de alegria. Agradeço aqueles que torceram por esta produção e me ajudaram a fazer com que a obra de Clementina de Jesus possa ser difundida de uma forma alternativa, sem que o mercado econômico possa interferir”, comemorou Kermes.
A exibição de domingo, 15/05, prevista para acontecer em praça pública, na região central de Valença, não ocorreu devido a uma tempestade que atingiu a cidade momentos antes da hora programada. Em vários pontos do município houve, inclusive, interrupção de energia.
O evento, organizado pela Prefeitura Municipal de Valença, através das Secretarias de Educação e de Cultura e Turismo, incluía uma apresentação musical de uma artista local, a cantora Carmem da Luz, que interpretaria músicas do repertório de Clementina, acompanhada por dois atabaques. Para ocasião foi montada uma grande estrutura com cobertura de lona, cadeiras, equipamento sonoro com grande potência, e seriam distribuídas pipocas para o público.
Segundo a vice-prefeita do município, Dilma Dantas, houve grande divulgação com faixas, carros de som e nas rádios locais. “Lamentamos por não podermos exibir na data prevista, uma vez que preparamos com muito zelo o evento em homenagem a cantora Clementina de Jesus”, declarou. Já o diretor Werinton Kermes, ressaltou que pretende realizar o evento em breve. “Já enviamos gratuitamente cópias do vídeo para todas as escolas da cidade, mas mesmo assim queremos apresentá-lo ao público, conforme previsto”, planeja Kermes.
O vídeo-reportagem Rainha Quelé foi realizado sem nenhum tipo de apoio ou incentivo público. O diretor é militante da idéia da “semeação da cultura e da memória”. Trata-se ainda, segundo os realizadores, de um trabalho de conscientização de que o Brasil tem uma dívida com a cultura negra.
            Sobre o diretor, Werinton Kermes, é documentarista, tendo realizado, entre outros, “João do Vale: muita gente desconhece”.  É diretor do projeto de comunicação alternativa Provocare, produtor cultural e fotógrafo. O Produtor Executivo Heron Coelho é pesquisador, produtor cultural e diretor de teatro, além do organizador da obra que embasa o roteiro, escrito por Míriam Cris Carlos, doutora em Comunicação e Semiótica e pesquisadora do Mestrado em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba.
            Ressalta-se que o trabalho não possui finalidade comercial. A obra está à disposição de entidades, fundações, escolas, espaços públicos e alternativos, pesquisadores, sem nenhum custo, enfim, todos aqueles que se responsabilizem pela propagação da memória de Quelé (forma como Clementina era chamada na infância). A todos aqueles que também acreditam que é possível semear a cultura.


Assessoria de imprensa: Luciana Lopez
Mais informações pelo e-mail: rainhaquele@gmail.com
Site: www.rainhaquele.blogspot.com

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