Gazeta de Votorantim 22/03/2013
Míriam Cris Carlos
(em busca de "aprender a só
ser")
Há dias em que a velhice me
descobre e salta, de dentro, mais que do espelho. Na pouca tolerância com
pessoas e situações. Na vontade de ser casulo. Na paciência diminuta. Na
sensação de distanciamento quando das obrigações intermináveis. Na recorrência
dos arrependimentos por algum tempo perdido. Na pergunta que reverbera: estou
aqui fazendo o quê? No cansaço, não apenas físico, mas na falta de energia para
a briga, a contrariedade, a indignação, a estupidez. Na desempolgação com
o-de-sempre. No maravilhamento com o mínimo absoluto do pingo sincrônico e
rítmico na poça.
Mas também há vezes em que
percebo, apenas, e o olho se arregala em descoberta (ainda que redescoberta). E
bebo a cara amorfa que se desmancha em riso solto. A testa que se franze em
dúvida. O discurso que vira transe e sintonia. O livro que não abandono pela
intimidade que se consolida, como se estivesse o autor, aqui, ao pé da mesa e
de mim. O vermelho intenso das acerolas nas mãos brancas da vizinha.
E desses pequenos
refazimentos, como diria lá o mestre, de quem busco deslumbramentos para estar
de novo em pé, renasço, como por milagre. E rejuvenesço. Ainda que por um lapso
minúsculo de eterno.
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