11 de fev. de 2013

A cidade que queremos

Gazeta de Votorantim - 09/02/2013




Míriam Cris Carlos[1]
A cidade expressa cultura e imprime, em sua constituição de concreto e asfalto, o que se passa na mente e coração dos que nela habitam, especialmente, dos que a governam. Cidades com largas avenidas e calçadas muito estreitas privilegiam carros, não pedestres. 
Com a baixa do IPI e outras políticas federais, há um número inestimável de carros nas ruas, com consequências desastrosas: congestionamentos, má qualidade do ar e uso de espaços públicos e privados para estacionamentos.
Há semanas, recebi uma amiga que vive na Irlanda. Ela estava feliz por tomar sol e dizia ser uma das coisas de que mais sente falta nos dias de céu cinza de Dublin. Mas destacou as vantagens de viver lá: andar de ônibus, caminhar com segurança e ir ao parque. Não que isto seja impossível no Brasil, mas é difícil, com transporte público ruim, ruas inseguras e muitos parques abandonados.
Cidades pequenas e medias não devem caminhar indiscriminadamente para o caos das metrópoles. Crescer é preciso, porém, cada vez que se fala nisto, penso nas palavras de Octavio Paz: “países em desenvolvimento disputam uma corrida para ver quem chegará primeiro ao inferno”.
Faixas são lugares de segurança para o pedestre. Em algumas, como Gramado, basta que se coloque o pé na rua para que os carros parem. Em Votorantim, um passo foi dado no sentido de se humanizar o trânsito, que provoca estresse, brigas e mata. Com a prática de parar, espera-se organização e respeito. Que motoristas, ao se aproximarem das faixas, diminuam, ao invés de acelerar, parem, olhem dos lados, pacientes e, ao perceberem que não há ninguém a atravessar, prossigam em velocidade adequada. Que pedestres usem a faixa e não atravessem onde bem entendam. Que aqueles que possam, atravessem com agilidade, pois muitos param no meio da rua, conversam, atendem ao celular com cara de “comprei a rua”. Deve haver bom senso de todos.
Preservar o espaço do pedestre é um avanço para se pensar a cidade que queremos: uma cidade não apenas de carros furiosos e pistas de corrida, mas de gente, que possa caminhar pelas largas calçadas, atravessar ruas com segurança, respirar ar de qualidade, desfrutar o verde dos parques e jardins e o sol bendito, que nasce todos os dias.


[1] Professora e pesquisadora do Mestrado em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba – UNISO.

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