Míriam Cris Carlos[1]
A cidade expressa cultura
e imprime, em sua constituição de concreto e asfalto, o que se passa na mente e
coração dos que nela habitam, especialmente, dos que a governam. Cidades com
largas avenidas e calçadas muito estreitas privilegiam carros, não pedestres.
Com a baixa do IPI e outras
políticas federais, há um número inestimável de carros nas ruas, com consequências
desastrosas: congestionamentos, má qualidade do ar e uso de espaços públicos e
privados para estacionamentos.
Há semanas, recebi uma
amiga que vive na Irlanda. Ela estava feliz por tomar sol e dizia ser uma das
coisas de que mais sente falta nos dias de céu cinza de Dublin. Mas destacou as
vantagens de viver lá: andar de ônibus, caminhar com segurança e ir ao parque.
Não que isto seja impossível no Brasil, mas é difícil, com transporte público ruim,
ruas inseguras e muitos parques abandonados.
Cidades pequenas e medias
não devem caminhar indiscriminadamente para o caos das metrópoles. Crescer é preciso,
porém, cada vez que se fala nisto, penso nas palavras de Octavio Paz: “países
em desenvolvimento disputam uma corrida para ver quem chegará primeiro ao
inferno”.
Faixas são lugares de
segurança para o pedestre. Em algumas, como Gramado, basta que se coloque o pé
na rua para que os carros parem. Em Votorantim, um passo foi dado no sentido de
se humanizar o trânsito, que provoca estresse, brigas e mata. Com a prática de
parar, espera-se organização e respeito. Que motoristas, ao se aproximarem das
faixas, diminuam, ao invés de acelerar, parem, olhem dos lados, pacientes e, ao
perceberem que não há ninguém a atravessar, prossigam em velocidade adequada.
Que pedestres usem a faixa e não atravessem onde bem entendam. Que aqueles que possam,
atravessem com agilidade, pois muitos param no meio da rua, conversam, atendem
ao celular com cara de “comprei a rua”. Deve haver bom senso de todos.
Preservar o espaço do
pedestre é um avanço para se pensar a cidade que queremos: uma cidade não
apenas de carros furiosos e pistas de corrida, mas de gente, que possa caminhar
pelas largas calçadas, atravessar ruas com segurança, respirar ar de qualidade,
desfrutar o verde dos parques e jardins e o sol bendito, que nasce todos os
dias.
[1]
Professora e pesquisadora do Mestrado em Comunicação e Cultura da Universidade
de Sorocaba – UNISO.
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